Morre Ronald Biggs, o ‘ladrão do século’, mentor do assalto ao trem pagador
Ele fugiu para o Brasil em 1970 e morou no País por duas décadas
O britânico Ronald Biggs, conhecido como o “ladrão do século XX” pelo assalto ao trem pagador Glasgow-Londres em 1963, morreu nesta quarta-feira aos 84 anos, informou a agência “Press Association” (PA) do Reino Unido.
Biggs, que ficou famoso após sua fuga espetacular para o Rio de Janeiro depois do roubo, morreu em um asilo para idosos em East Barnet, no norte de Londres.
O ladrão, que estava com a saúde debilitada por causa de várias apoplexias, tinha sido visto pela última vez em público no último mês de maio quando esteve presente no funeral de seu companheiro de assalto Bruce Reynolds, segundo informações da agência britânica.
Biggs, cuja história serviu de inspiração para vários filmes, foi o mentor do chamado “roubo do século XX”, o assalto ao trem pagador Glasgow-Londres, no qual ele e vários cúmplices levaram 2,6 milhões de libras, a maior quantia roubada até então em um único assalto.
Os assaltantes foram detidos um ano depois e Biggs, após ser processado e condenado a 30 anos de prisão, foi levado para a penitenciária de Wandsworth, em Londres, mas conseguiu fugir 15 meses depois.
O lendário assaltante esteve foragido em vários países e acabou chegando ao Brasil, onde se estabeleceu no Rio de Janeiro até o ano de 2001, quando decidiu se entregar à Justiça britânica porque queria voltar ao Reino Unido para viver seus últimos anos.
Após ser preso no Reino Unido, foi libertado em 2009 por razões humanitárias, pois estava muito doente. No dia 8 de agosto o assalto ao trem pagador completou 50 anos.
Pouco depois das 3h do dia 8 de agosto de 1963, um grupo de 15 assaltantes, entre eles o inglês Ronald Biggs, que ganharia fama no Brasil, realizou em minutos o mais audacioso assalto a um trem no Reino Unido.
O grupo levou 2.631.784 libras (equivalente a cerca de R$ 124 milhões) do trem do correio que viajava de Glasgow a Londres, no Reino Unido. A maior parte do bando, contudo, foi presa por causa do trabalho mal feito de cúmplices e digitais encontradas nas peças do jogo Banco Imobiliário. O dinheiro, contudo, nunca foi encontrado.
OS LADRÕES
O mentor do plano foi Bruce Reynolds, um conhecido ladrão de joias do Reino Unido. Ele reuniu o resto do grupo após sair da prisão, em 1962. O bando era composto por outros nomes conhecidos da polícia londrina: Douglas Goody, o número 2 do plano, Charles Wilson, Thomas Wisbey, Robert Welch e James Hussey. Roger Coldrey, William Boal, Jimmy White, Bob Welch, Brian Field, Leonard Field, Jimmy White, John Daly e Ronald Edwards tiveram um papel secundário na trama, como o próprio Biggs –segundo Reynold declarou anos mais tarde.
O grupo teve ajuda ainda de alguns cúmplices, conhecidos como Sr. Um, Sr. Dois e Sr. Três. Há ainda um homem identificado apenas como Peter, trazido para dirigir o trem e John Wheater, que garantiu a segurança do esconderijo.
O PLANEJAMENTO
Com seus contatos, Reynolds obteve todos os detalhes do trem: a rota, os horários, quantidade de dinheiro que seria transportada e número de trabalhadores a bordo.
O mentor descobriu ainda que o volume de dinheiro seria maior se esperassem uma data logo após um feriado bancário: o próximo seria 5 de agosto. Reynolds colocou um cúmplice dentro do banco, conhecido pela mídia como “Ulsterman”, para descobrir em que dia o trem com o dinheiro –a maioria notas miúdas e usadas, para as agências bancárias utilizarem nos caixas– levaria o dinheiro a Londres.
A AÇÃO
Na madrugada de 8 de agosto de 1963, o bando deixou o esconderijo –a fazenda Leatherslade, em Buckinghamshire– em duas Land Rovers. Aqui, os relatos divergem. Alguns dizem que eles vestiam roupas militares, outros que usavam máscaras de ski, capacetes e luvas.
Eles chegam à ponte Bridego. Seguindo uma ideia de Coldrey, eles cortam os fios telefônicos e mudam a luz dos sinalizadores em uma encruzilhada para obrigar o trem a parar. A locomotiva obedece o sinal vermelho adulterado com duas baterias e para a seis metros de distância.
O foguista, como de praxe, desce do trem para contatar a central. No escuro, é facilmente rendido por parte do grupo. Outros três desconectam a locomotiva e o vagão que levava os sacos de dinheiro do resto do trem. Os bandidos acertam o maquinista com um golpe na cabeça e o ferem gravemente. Contudo, percebem mais tarde que não sabiam operar o trem e, mesmo ferido, o maquinista é obrigado a levar o dinheiro e os ladrões até a ponte.
Liderados por Wilson, outros sete membros da quadrilha invadem o vagão dos malotes, atacam os funcionários com uma machadinha e iniciam uma corrente humana para esvaziar as 120 sacolas de dinheiro o mais rápido possível. Em 20 minutos, eles estavam no caminho de volta ao esconderijo.
O ERRO
Na fazenda, eles comemoram o roubo e o aniversário de Biggs com charutos, bebidas e uma partida de Banco Imobiliário com as notas recém-roubadas. Na manhã seguinte, deixam a fazenda após pagarem 28 mil libras a um cúmplice para que limpasse qualquer vestígio da casa.
O trabalho foi mal feito e a polícia, seguindo a denúncia de um vizinho, encontra digitais de quase todos eles nas peças do jogo, em revistas e talheres utilizados no local.
O jogo Banco Imobiliário virou peça de arte no Museu Thames Valley Police.
A PRISÃO
Os primeiros a serem presos foram Coldrey e Boal, que pagaram com dinheiro vivo e adiantado três meses de aluguel de uma garagem em Londres. Wilson foi capturado em 22 de agosto e, em dezembro, foi a vez de Roy James. Até abril do ano seguinte, a polícia havia capturado 11 acusados, incluindo Biggs, e recuperado apenas uma quantia pequena –336.518 libras– do roubo.
O grupo foi condenado a penas de entre 20 anos e 30 anos. Já Reynolds passou cinco anos foragido antes de ser condenado, em 1968, a dez anos de prisão.
A FUGA
Biggs passou menos de dois anos encarcerado e, em 8 de julho de 1965, pagou funcionários da penitenciária e conseguiu escapar –uma fuga que o levou mais tarde para o Brasil, onde viveu mais de 30 anos, teve um filho que virou astro infantil e gravou uma canção ao lado do Sex Pistols e um filme ao lado de José Wilker.
Fonte:Estadão/UOL http://jornaldehoje.com.brhttp://jornaldehoje.com.br
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